Um dos princípios do treinamento desportivo, o princípio da variabilidade permite que haja a quebra de um possível platô de treinamento, assim como, a redução da monotonia nas sessões de treino. A alternância de exercícios e de outras variáveis de treinamento favorece maior motivação para a continuidade da tarefa ao longo dos dias, meses e anos. De acordo com Gomes da Costa (1996) a maior diversificação de estímulos favorece maior possibilidade de aumentar o desempenho numa determinada tarefa.
Em se tratando de treinamento de força, especificamente os exercícios para o bíceps braquial, há uma enorme variedade de treinos na sala de musculação. No entanto, será que esses exercícios diferentes promovem resultados distintos quanto à atividade muscular e/ou força ou, a variabilidade de exercícios para os bíceps são apenas para “encher linguiça”? Respondendo, há ausência de estudos que verificaram hipertrofia seletiva (distal, medial ou proximal) para o bíceps quando comparados os diferentes tipos de exercícios, tais como: rosca direta com a barra, rosca direta no banco Scott, rosca direta com banco inclinado ou rosca direta na polia baixa, por exemplo. Desta forma, o que podemos por enquanto é especular de forma elegante que há maior atividade muscular para o bíceps como um todo ao se alternar os ângulos de flexão ou extensão dos ombros durante a execução da rosca bíceps em distintos exercícios.
Sobre isso, Silva (2007) ao comparar o torque para os flexores do cotovelo nos exercícios ROSCA SCOTT, ROSCA DIRETA EM PÉ, ROSCA NO BANCO INCLINADO e ROSCA NA POLIA BAIXA, verificou grande variabilidade na produção de torque na fase inicial e final, sendo praticamente semelhantes quando a flexão do cotovelo estava próxima de 90°. Oliveira et al. (2009) verificaram diferença estatisticamente significativa durante a fase concêntrica para a cabeça longa do bíceps braquial apenas quando o cotovelo estava quase em extensão completa no exercício rosca Scott com os ombros fletidos em 50°. A rosca direta em pé e no banco inclinado (-50° de extensão de ombros) foram similares, tanto na fase concêntrica quanto excêntrica.
Esses achados reforçam a ideia de que a variabilidade de treinamento pode ser importante para o desempenho em determinadas tarefas e/ou para determinadas pessoas, atendendo assim aos princípios da especificidade e individualidade, respectivamente. Porém, não podemos concluir que essa variação de exercícios/ângulos promova hipertrofia diferenciada para o bíceps braquial (cabeça curta/longa ou porção proximal, medial e distal).
Referências
Gomes da Costa, Marcelo. Ginástica Localizada. Rio de Janeiro: Editora Sprint, 1996.
Silva FC. Caracterização do torque externo a partir das características musculoesqueléticas dos flexores do cotovelo. Dissertação. UFRGS, Porto Alegre-RS, 2007.
Oliveira et al. Effect of the shoulder position on the biceps brachii EMG in different dumbbell curls. Journal of Sports Science and Medicine (2009) 8, 24-29.